Não temos memória recente de uma tecnologia que tenha passado tão rapidamente do laboratório para um produto com milhares de utilizadores e que tenha durado menos tempo, e que tenha sido pioneira, captada ou imaginada coletivamente e mostrado o potencial para revolucionar a forma como interagimos com a informação online.
Nada ilustra melhor essa percepção do que o fato de o Google – o motor de busca que há mais de duas décadas domina o setor – estar desesperadamente fazendo movimentos defensivos.
Mas vamos por partes.
Há duas semanas, a Microsoft anunciou que o Bing (que, apesar dos esforços multimilionários, tem apenas 9% do mercado) passaria a incluir uma ferramenta que permite buscas com linguagem natural, como se estivessem perguntando a um ser humano.
“Preciso comprar uma escrivaninha nova para trabalhar em casa, mas não gosto de montar móveis e preciso que caiba no meu carro, que é o modelo X”; ou…
“Quero fazer uma viagem de férias pela Europa, alugando um carro em Lisboa e indo até uma qualquer cidade italiana à beira-mar.
Que percursos sugere?”; ou “Vou dar um jantar em casa para seis pessoas. Uma delas é vegetariana e há uma criança. O que devo fazer para não passar horas na cozinha?”. O computador pode até adotar um tom humorístico, profissional ou casual, à escolha do usuário.
Esta tecnologia do Bing ainda está numa fase de testes, não é acessível a todas as pessoas e tem como base o modelo de linguagem usado no ChatGPT.
Basicamente, é como a IA e Automação de Marketing de conversação que a OpenAI disponibilizou online no final de novembro.
A Alphabet, dona do Google, reagiu, apresentando apressadamente uma ferramenta concorrente, chamada Bard.
É fácil entender a preocupação do Google. A funcionalidade tem o potencial de mudar toda a economia associada à atividade de busca.
Para começar, tem impacto nas empresas que fazem publicidade nos motores de busca.
Se o superinteligente assistente virtual sugere especificamente um produto ou serviço, quem é que vai clicar em anúncios de produtos ou serviços semelhantes?
Além disso, quem é que vai continuar a clicar em links?
Um dos negócios que sentirá o impacto é o da mídia. Se a inteligência artificial apresenta os fatos, em textos bem redigidos, quem vai clicar nas notícias?
Por ora, a tecnologia está longe de ser perfeita.
Pode-se argumentar que estes modelos têm uma espécie de conhecimento, mas não têm sabedoria ou sequer uma pitada de bom-senso.
Se houver muitos textos online dizendo que a Torre Eiffel é na Lua, os modelos vão repetir o absurdo. E já apareceram problemas.
Rapidamente o novo Bing mostrou um lado sombrio, fazendo ameaças ou insistindo que os usuários estão numa relação infeliz e falhada;
A Microsoft teve de limitar a ferramenta para tentar evitar estes problemas. Mas este é um risco que a empresa está disposta a correr.
A pesquisa é um negócio pequeno para a Microsoft, que pode dar-se ao luxo de experimentar e errar. Já para a Alphabet, o Google é a base de tudo (a publicidade associada ao Google representou 81% das receitas de 2022).
É cedo para dizer que a Microsoft está na dianteira. A tecnologia ainda tem muito por onde ser desenvolvida e a Alphabet tem trunfos.
Nas últimas décadas, o Google transformou-se em um verbo, influenciando muitos negócios e atividades econômicas por meio da sua seleção e hierarquização da informação como o motor de busca dominante.
O mesmo aconteceu com os hábitos dos usuário e consumidores.
Google (como marca, plataforma ou empresa) continuará a ser relevante – mas a pesquisa, do Google ou do Bing, seguirá um paradigma diferente da googlização em que vivemos há um quarto de século.
Fonte: Publico 4.0 Tecnologia (Portugal)
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